sábado, 8 de janeiro de 2022

Sobre Importâncias

 Um fotógrafo-artista me disse uma vez: veja que o pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar. Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetro etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.

Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes. Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eiffel. (Veja que só um dente de macaco!) Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building. Que o cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear. Sem precisar medir o ânus da formiga. Que o canto das águas e das rãs nas pedras é mais importante para os músicos do que os ruídos dos motores da Fórmula 1. Há um desagero em mim de aceitar essas medidas. Porém não sei se isso é um defeito do olho ou da razão. Se é defeito da alma ou do corpo. Se fizerem algum exame mental em mim por tais julgamentos, vão encontrar que eu gosto mais de conversar sobre restos de comida com as moscas do que com homens doutos.

- Manoel de Barros

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Mensagem na garrafa

 Olá. 

Acho prudente avisar que estou vivo. Nem mesmo nas postagens mais pessimistas que eu fiz neste blog fantasma eu pude chegar próximo de imaginar o que estaríamos vivendo hoje.

No mais, estou bem. 

Eu parei para ler coisas antigas aqui neste relicário virtual e devo dizer que algumas coisas não mudaram. O fato da grana continuar pouca e rara, por exemplo. Mas muita coisa mudou. Também, né, mais de dez anos escrevendo muitíssimo esporadicamente.

Eu entrei na faculdade de Física e avancei nela, isso foi algo que eu nunca imaginei que aconteceria, talvez menos ainda que uma pandemia global. Mano, física.

Eu odiava física. Eu reprovei o primeiro ano do ensino médio por causa de física. Física era chatão. Bagulho de bloco, plano que inclina, carga elétrica. É meio maluco o conceito de carga elétrica.

Aliás, não virei bombeiro. Foi por pouco. Mas semana passada fiz 50 acertos na UERJ. Vai achando que eu to de bobeira. Vai achando que eu desisto dos bagulho assim. 

Daí hoje tava eu lá, fazendo uma prova de Eletromagnetismo, em casa, por causa de um virus, depois de ter levado meu gato pra castrar. O gato que eu resgatei aqui em Nova Iguaçu, onde moro com minha mulher, minha parceira, minha namorada, a melhor coisa que já aconteceu comigo nessa vida, minha metade, minha vida todinha, que eu conheci no Tinder, que chega a fazer parecer ridículo as coisas que escrevi aqui enquanto jovem. A gente mora junto, temos uma casa linda e fumamos maconha na sala e transamos pela casa. Sala com um monte de máscara pendurada. Sala onde demos muitas aulas virtuais, pois sou professor de física, e ela de história.

A vida não faz sentido algum.

Alguém ainda lê?



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Unknown Waters

2015 foi tão agradável quanto uma tempestade em alto mar. E foi tipo isso mesmo. Tava ali seguindo o norte da bússola e, bum, trovões. Cheguei bem perto do meu maior sonho. Fui demitido. Me apaixonei e deu merda. Perdi um membro da família pro cigarro. Perdi mais cabelo. Porrada e porrada. O barco quase virou.
O que aprendi com esse ano? Você não pode controlar o mar, mas o leme do barco é seu. Criei meus próprios raios de sol. Voltei a dar aula. Voltei a praticar judô. Perdi 10 kg de gordura. Recuperei minha saúde mental, retomei amizades antigas. Voltei a ser mestre da meu destino, capitão da minha alma, bonde dos careca e pode vir 2016 que 2015 foi só pra aquecer porque ainda tá fraco.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

8 ou 80

Porque eu sou assim
E esse sou eu
Sou a sarjeta, a ressaca, o último bar aberto
E a mensagem enviada bêbado
Sou o beijo antes do último ônibus
E a mão embaixo da blusa
Sou o exagero
Sou o oitenta querendo ser oito
Sou aquela história de não saber ser metade
E nem querer aprender
Porque esse sou eu
Mesmo não querendo ser

quinta-feira, 23 de abril de 2015


"Um pouco de você em mim talvez pudesse me fazer bem, assim como um pouco de mim em você, também..."

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Mercúrio

Certas vezes, imagino-me como um velho frasco, daqueles bem resistentes e tampado com rolha de cortiça, guardando há muito tempo tudo que há de ruim.
Cânceres auto-sustentáveis. Pensamentos nocivos. Sonhos demasiados.
Um pouco de auto-destruição inocente.
Tudo impregnado nos órgãos. Como um metal pesado que contamina uma cadeia alimentar.
E quando eu morrer, tudo há de se escorrer livremente, como um termômetro quebrado.
Talvez a natureza transforme o lixo em nutriente inspirador para as próximas gerações. Talvez intoxique mais sonhadores, transformando a covardia em coragem.
O orgulho em sorrisos sinceros.
Mágoa em amor.
Tudo em um novo alguém.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Eighties 2014


Imagino uma leitora fantasma dizendo ''caralho ficou careca de vez'' hahahaha... Ok.

A vida tem sido ótima! Evoluções pessoal e acadêmica à todo vapor. Sonhos sendo construídos em cima de realizações lentas. Meta definida. Ninguém pode me parar.

Mas não tenho visto nem sentido tanta evolução emocional.

Sem mais delongas, life has been great. Amigos antigos se tornando novos amigos. Laços atuais mais reforçados. Cumplicidade em abundância, como a vida tem que ser. Conhecimento sendo buscado. Bebês nascendo. Festas incríveis. 

E sabe o que é melhor? Sem nenhum filho(a) da puta pra estragar nada disso.