Mercúrio
Certas vezes, imagino-me como um velho frasco, daqueles bem resistentes e tampado com rolha de cortiça, guardando há muito tempo tudo que há de ruim. Cânceres auto-sustentáveis. Pensamentos nocivos. Sonhos demasiados. Um pouco de auto-destruição inocente. Tudo impregnado nos órgãos. Como um metal pesado que contamina uma cadeia alimentar. E quando eu morrer, tudo há de se escorrer livremente, como um termômetro quebrado. Talvez a natureza transforme o lixo em nutriente inspirador para as próximas gerações. Talvez intoxique mais sonhadores, transformando a covardia em coragem. O orgulho em sorrisos sinceros. Mágoa em amor. Tudo em um novo alguém.