Diz a lenda que certa vez houve um homem que quis abraçar o mundo, embora seu tamanho não o permitisse realizar tal façanha.
Então, ele resolveu procurar o diabo, e o encontrou em suas mais infinitas vertentes: dinheiro, drogas, jogos, viagens, promiscuidade e etc, até que um dia ele o encontrou como deveria: um humilde senhor de cabelos brancos, que lhe disse:
- Rapaz, já conheceu o mundo de tal forma que somente eu poderia te mostrar. Já machucou os outros e a si mesmo, já se divertiu e desfrutou horrores, se embriagou nos meus prazeres e agora lhe aconselho com sinceridade que voltes enquanto há tempo para aqueles que ama, e que também te amam. Lembre-se que te avisarei uma vez, mas não três.
Mas as palavras do diabo o atingiram como brasa e ortiga, e ele queimou de ansiedade ao mesmo tempo que se coçava de curiosidade até que, vencido pela inquietude, abandonou a razão. Voltou a procurar o diabo, que lhe perguntou:
- O que queres?
- Quero ser livre - respondeu. - Quero abraçar o mundo.
Então, ele foi avisado pela segunda vez.
Desta vez foi atingido por vozes que o provocavam e lhe diziam que a liberdade não tinha preço e que o mundo lhe era pequeno, pois sua natureza era a de um gigante que caminhava em longos passos. Foi quando a inquietação o cegou e ele procurou o diabo a terceira vez. Disse coisas sobre a liberdade e sobre tudo que ainda deseja ver e ouvir sobre o mundo, e que andasse rápido pois não tinha tempo a perder. O diabo, então, compreendeu sua necessidade e o fez gigante.
- Agora vai poder abraçar o mundo - disse.
E assim foi feito. Desta vez, imenso como o cosmos, ele contemplou o mundo. As fronteiras mundanas não existiam mais para ele. Conheceu cidades, países e continentes em um minuto, ouviu seus idiomas e maravilhas com seus potentes ouvidos como se ouve o barulho do mar, e sentiu seus cheiros e sabores com seu imenso nariz. Por fim, cego de amor, abraçou o mundo num ato final de egoísmo.
O diabo, por sua vez, observou e sorriu, se divertindo com a incapacidade do homem de ouvir os gritos de dor de todos aqueles que o amaram, agora sufocados em seus braços colossais, mortos pelo esmagamento daquele egoísmo ridículo. Sem poder se mover sem que causasse grandes tragédias, o homem então percebeu que o mundo já fora muito mais interessante outrora, quando podia amar com simplicidade, como um homem comum e sem a fantasia entorpecente de um mundo que, no fim, nunca teve nada a lhe oferecer além de irrelevância. Sentiu então seus braços afrouxarem e, antes que pudesse morrer de desgosto, fora derrubado pelo peso de algo que, graças a sua imaturidade, pensou que pudesse sustentar.
Então caiu, quebrou a cabeça e morreu.
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